Guardemos nossas pedras
Pela insistência do Evangelho de Jo, 1-11, em minhas orações dos últimos dias, partilho com vocês esta reflexão:
Quem tem pedras nas mãos tem poder. É Deus e juiz de tudo e de todos; pronto para julgar os atos e as intenções, culpar, condenar, afirmar e definir o caráter do outro e cuja ira se aplaca sobre os pecadores. É dono da verdade, da moral, da inocência, vítima dos de intenções tortas.
Aquele, porém, que nasceu de Deus e que é o próprio Deus, diante da intenção perversa de quem queria pô-lo à prova para condená-lo, já que tanto incomodava, uma vez tendo se abaixado porque se compadeceu da vergonha e da iminente desgraça daquela mulher, pronta para ser apedrejada, ergueu-se e sem temor desafiou: “quem aqui não tiver nenhum pecado, atire a primeira pedra”. Tendo ouvido isso, diz o Evangelho, foram saindo um a um.
Certamente, o desafio do Filho de Deus fez que de imediato as consciências fossem visitadas e os labirintos obscuros acessados; foram remetidos ao mais profundo e sagrado de si, onde nenhuma escuridão foge à luz da verdade que cada ser carrega. Sim, visitaram aquele lugar íntimo onde a língua afiada é travada e emudece, onde a rapidez do julgamento é desacelerada pelo desmascaramento das aparências e da tentativa de salvar a própria pele, imputando sobre os outros a culpa pelos próprios fracassos e confusões, famintos de espetáculo condenatório.
Quantas vezes condenamos, quantas nos achamos mais corretos e mais éticos, quantas vezes nos apegamos à lei para fugir de nossas fraquezas humanas? Quantas vezes somos hipócritas ao protagonizarmos com os outros o erro e depois, para salvar a própria pele os enterramos até o pescoço com nossa condenação e atiramos pedras, sem dar-lhes o direito de defesa?
Coloquemo-nos na cena do Evangelho e com humildade, guardemos nossas pedras; não somos “Deuses”, não somos maiores que Aquele que acolhe a fragilidade do pecador e o regenera, animando-o a ser melhor, quando diz: “eu também não te condeno, vá e não peques mais”.
A coragem de apedrejar pressupõe a perfeição e Deus Só é perfeito. Guardemos, pois, nossas pedras.
Ir. Janete Silva-CIC
[Caminho de vida interior para a quaresma]
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