Quanto vale a irracionalidade?


É lamentável que a irracionalidade tenha tomado o cérebro de alguns tantos brasileiros, num momento tão doloroso como este, vivido pela população de Brumadinho, e por todos aqueles/as que se comovem com os estragos, perdas e traumas causados por este crime de negligência ambiental da VALE. Não digamos que foi acidente, tragédia, desastre...não, não foi!

Há pouco, um grupo de pessoas desprovidas de bom senso, assistindo a um jornal online "ao vivo" tecia comentários totalmente desconectados de um cérebro que esteja funcionando minimamente em ordem, misturando o bendito discurso de ódio, preconceito, racismo e etc., ao o conteúdo do noticiário. Dentre os possíveis cristãos, ateus, curiosos, sem serviço e quem mais ali estava, muitos fazendo piada, agressões verbais aos que em juízo são se compadeciam das famílias vitimadas.

Pergunto: será que vamos acordar desta insanidade de espalhar a cizânia do ódio, não importa a situação? Será que os que agridem os outros, por terem um posicionamento crítico, uma reflexão humanitária, religiosa, que seja, diferente dos seus, sobre um fato tão lamentável como este, adotariam a mesma postura irracional e desumana, se tivessem um parente ou amigo, sua casa, sua horta, animais, engolidos pelos rejeitos?

Dentre as várias espécies que já existiram, diz-se que o Sapiens - a espécie humana - é a única que conseguiu prosperar, pela capacidade de fazer abstração, de viver em grupo, de viver a intersubjetividade, acreditar em coisas comuns, a partir das experiências subjetivas. Inevitável perguntar: até quando irá prosperar?

Assusta-me a irracionalidade que tem imperado na vida das pessoas; ela é autodestrutiva, pois quem deseja destruir seu semelhante está, de alguma forma, destruindo sua própria espécie.

Assusta-me a demência que faz as pessoas proferirem termos agressivos, brincadeiras de mau gosto, demonstrando total desinteresse e desrespeito pela dor do outro, quando somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma espécie. Mas, ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade, temos a sociedade como parte de nós”(Morin), de modo que a dor do outro deveria nos afetar.

Assusta-me a sofomania, esta visão equivocada da própria inteligência, ou esta armadura de ataque que esconde a ausência de repertório, de conteúdo, de matéria concreta para debater sobre determinados assuntos, respaldada pelo perigo do senso comum. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”...

Estamos extraindo o pior de nós, em lugar de lapidar nossas deficiências para oferecer o melhor. Estamos perdendo o rumo do equilíbrio emocional, tornando-nos pessoas compulsivas, descompensadas, donas da razão, desbocadas, deselegantes, desconhecedoras dos processos inibitórios, despreocupadas com a ambiência que proporcionamos a nós mesmos e aos outros. E o pior, alguns o fazem em nome de Deus! Pobre Deus, também violado em sua essência que é puro amor e compaixão.

Urge resgatar a capacidade de ser empático, compassivo, emocional e racional ao mesmo tempo. Urge retomar a consciência de que todos nós pertencemos à mesma condição, que é a condição humana. Não podemos ignorar a identidade terrena, a compreensão humana, a condição planetária (cf Morin).

Não somos seres autossuficientes para andarmos em plataformas de soberba, insana soberba, esquecendo-nos de que não somos donos nem do ar que respiramos. 

Todo tipo de rejeito é nocivo! VALE a pena pensar nisso.

Ir. Janete Silva-CIC




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