Sigo, então, contando estrelas no céu... À minha tia Luzia, a "luminosa".

Quando escrevi a música “conte as estrelas por mim”, não sabia que ela seria um bálsamo a nos consolar em momentos de passagens para o eterno. Deus é surpreendente!

A primeira incentivadora deste projeto, minha irmã Lurdinha, partiu antes de vê-lo ser concretizado, mas me deixou a certeza de que abriria um sorriso quando me ouvisse cantar quando olho para o céu e conto estrelas, sinto Teu amor que comigo sempre está”, porque saberia que a partir daquele momento era ela também uma estrela no céu a me iluminar, onde quer que eu fosse.

Quem me ensinou a reaprender a olhar para o céu e experimentar na lua e nas estrelas a grandeza da aproximação entre mim e o geograficamente distante também está em outra esfera.

De dois anos para cá, devolvi a Deus algumas pessoas que amei e amo e que, tendo cumprido sua missão nesta terra, também viraram estrelas a iluminar de onde estão, algumas no céu, outras ainda aqui neste kairós passageiro.

Hoje ganhei mais uma estrela luminosa, minha segunda mãe - a Tia Luzia - de jeito pacato, de fala mansa, sorriso tímido, paciência extrema, resignada no sofrimento e com uma qualidade que peço a Deus todos os dias: a capacidade de se importar com os outros e de não se sentir em paz, quando não podia fazer qualquer coisa para ajudar.

A tia que costurava nossas roupas, enquanto a rodeávamos dando nossos pitacos, que ajudava no banho, que fazia vitamina de abacate, que nos aguentava em sua casa aos finais de semana e não se importava com a bagunça que fazíamos. Era simplesmente uma mulher de generosa doação. Que saudades de quando aparecia no portão, fizesse chuva ou sol e dizia:“bencinha, boneca!”   

Conheci poucas pessoas com a capacidade silenciosa de que ela era abundantemente cumulada. E o silêncio laborioso dela era um modo de servir, de cuidar, de se importar, até mesmo se esquecendo das próprias necessidades. O silêncio é uma dádiva de pessoas que cultivam vida interior, que meditam profundamente sobre os acontecimentos e o sentido das coisas, que retroalimentam a própria alma ruminando fatos e experiências, encontrando neles a força para serem o que são – intensas no agir em direção ao outro, pouco afeitas a se voltarem demasiadamente para seus próprios dramas, certas de que Deus é assim, puramente uma inclinação divina às necessidades humanas.

Sentirei saudades daquele carinho de segunda mãe, que a deixava preocupada, se por acaso eu não aparecesse nas férias para “filar macarronada com sardinha”. Ah...aquela macarronada tinha para mim o gosto do prato mais refinado, tamanho amor com que era temperada.

Eu sempre repito que aqueles que nos precedem no céu de estrelas nos deixam lições de eternidade, porque suas marcas ficam para nos lembrar de que temos pouco tempo para respirar, mas o suficiente para amar e sermos apenas amor. Sim, porque de todas as coisas que podemos dar de nós em nossa breve passagem, a maior delas é o amor, já nos dizia o apóstolo Paulo.

Minha tia tinha o nome que lhe cabia por missão – Luzia – que significa “a luminosa” ou “aquela que irradia luz”. Se aqui já nos iluminou, agora o fará de forma plena. 

Luminosos são os que nos permitem experimentar o céu, ainda na terra.

Sigo, então, contando estrelas no céu e sei que você está entre elas.

Ir. Janete Silva-CIC

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