Natal é convite a protagonizar encontros
Cada vez que nos reunimos para
viver o momento da chegada do Natal, somos embalados por uma motivação. A
grande motivação desta noite está focada em uma palavra – ENCONTRO.
Um encontro é sempre precedido
de um deslocamento, de um desinstalar-se. Para encontrar alguém, tenho que sair
do meu lugar. O encontro desta noite iluminada, que é o Natal, nos leva a pensar
na necessidade urgente que temos, nos dias atuais, de encurtar distâncias
e voltar a ter contato com as coisas
boas, com as pessoas, com os sonhos que fomos deixando pelo caminho, em função
da pressa, da preocupação com a produção, do egocentrismo e tantos outros.
Pode ser, e isso se passa comigo, já escrevi isso em outra ocasião, que há certos dias
que você sente saudade de estar presente em si mesmo, de chegar aonde ainda não
chegou, de ser o que ainda não foi ou de voltar a lugares por onde passou
superficialmente, sem tocá-los como devia.
O volume das coisas, a velocidade do tempo, as
muitas perguntas e a ausência de tantas repostas parecem nos tirar da nossa
própria presença, separar-nos daquilo que somos. É paradoxalmente estar
presente e ausente em um mesmo corpo – uma dualidade que causa desconforto. É a
sensação do desencontro.
Hoje é tempo religar o que foi
desligado, de encontrar o que foi perdido ou desencontrado. A criança frágil, na
qual Deus se encarna, nos convida a nos colocar a caminho, a encurtar
distâncias, a gestar e acolher a vida, a tecer pontes entre as gerações,
culturas, religiões, a receber Deus Menino e celebrar o Natal.
Para celebrar o Natal é preciso
resgatar o sentido desta festa que marca o fim da distância entre Deus e o ser
humano. Deus não se fechou um uma atitude prepotente e orgulhosa em si mesmo;
ao contrário, veio humildemente morar no meio da nossa fragilidade, para dizer que é
sábio, é inteligente quem escolhe estreitar laços, em lugar de causar divisões.
Deus é onipotente, é divino e
está acima de nós, não porque nos revela sua face prepotente, mas é onipotente porque
consegue descer de seu poder criador para encontrar e abraçar a cada um de nós,
da forma como somos, e promover o grande encontro do humano com o divino. Onipotência
é, neste, caso a capacidade e ser inteiro e integral, ser um com o outro. E
como é bom reconhecer no outro um pedaço de nós. Inclinar-se até o humano e na
direção dele - este é o gesto supremo de Deus. Só provoca divisão, uma pessoa
que não é inteira em si mesma. Deus quer provocar encontros.
No presépio, símbolo emblemático
do encontro, encontramos em torno do salvador, os pastores, os reis magos, o
pai, a mãe, pessoas que vivem diferentes situações e condições; todos em torno
do menino Deus, envolvidos pela mística de uma noite silenciosa sobre a qual
debruça o universo em uma fecunda experiência de contemplação que preenche os
desejos mais ocultos de encontro com a salvação.
De modo particular, não poderia
deixar de lembrar Maria, a Imaculada, mãe de Jesus, aquela que favoreceu que
Deus viesse morar no meio de nós e promover o grande encontro. Ela nos ensina a
pousar sobre nós, o mundo e as pessoas, um olhar limpo de toda pretensão de
desencontro que divide, categoriza e segrega, e nos convida a promover
encontros que encantam, enriquecem e transformam.
Se eu pudesse fazer um convite a
cada um dos que me leem, diria simplesmente: sejam promotores de encontros, encurtem
distâncias, protagonizem abraços que eternizam e marcam. Substituam, como nos lembra Edgar Morin, “um pensamento que isola e separa por um
pensamento que distingue e une".
Façamos, pois, deste Natal a festa
do encontro!
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